Privatização foi fraude nas Pirites
22-Nov-2008

Privatização foi fraude nas Pirites

Sócrates tem de voltar a Aljustrel

 

A Lundin Mining Corporation, transnacional de origem sueca e canadiana, reduziu actividade na mina de Aljustrel à manutenção das instalações e suspendeu a produção de zinco na Mina de Neves-Corvo, a pretexto da queda das cotações deste metal no mercado internacional. Eis o último acto de uma série de fraudes que se arrastam, desde finais de 2001, com a privatização da Somincor e das Pirites Alentejanas, vendidas pela EDM ao grupo Eurozinc em 2004.

A fraude económica foi a venda da Somincor, detentora do mais rico filão de cobre da Europa, de zinco, estanho e outros metais, por cerca de 125 milhões de euros – um autêntico crime de lesa-património público: só os lucros do primeiro ano de exploração ultrapassaram o preço de compra. A subida continuada das cotações do cobre e do zinco ao longo dos últimos sete anos transformaram a mina de Neves-Corvo numa galinha dos ovos de ouro para a Eurozinc, chegando ao ponto de “comprar” o feriado de Santa Bárbara – Dia do Mineiro – pelo equivalente a um mês de salário!

As Pirites Alentejanas de Aljustrel, com maiores reservas minerais mas com teores metálicos bastante inferiores, foram compradas no mesmo pacote pela Eurozinc como uma reserva estratégica e com a vaga promessa de retoma da laboração “quando as condições dos mercados o permitissem” – o que nunca chegou a acontecer antes de a Eurozinc vender a mina à Lundin Mining Corporation.

Em Maio de 2008 deu-se o segundo acto – a fraude política – com a presença do primeiro-ministro José Sócrates em Aljustrel, garantindo um futuro radioso e sustentado à mina, aos seus trabalhadores e às populações. Neste Verão Aljustrel renasceu, sacudindo o torpor de quinze anos de depressão causados pelo encerramento da mina em 1993, no auge do cavaquismo.

Agora chegou o fim um sonho de Verão, com o rebentar das bolsas e das bolhas especulativas que engordaram a mentira da economia de casino global. E não por mera coincidência: as cotações na bolsa de metais de Londres dependem em mais de 80% de factores especulativos, como os célebres mercados de futuros que fazem disparar os preços dos cereais ou o barril de petróleo.

Mais uma vez, os custos sociais da crise caem sobre os trabalhadores e os consumidores: o governo só acode aos banqueiros e especuladores que a provocaram. Em Aljustrel, a fraude política promete continuar com promessas de novos compradores / salvadores de última hora que nada garantem em relação a cem postos de trabalho nas Pirites e perto de um milhar nas empresas subcontratadas, entre os quais cerca de três centenas de imigrantes.

É tempo de responsabilidade política: Sócrates tem de dar a cara e voltar a Aljustrel.