RESUMO DE INTERVENÇÃO NO
CONGRESSO DA LUSOFONIA EM BRAGANÇA (5-Outubro-2007)
UM LUGAR ONDE A LÍNGUA PORTUGUESA (VARIEDADE ALENTEJANA...) ESTÁ EM AGONIA
(inclui reflexões de um jovem local de 28 anos)
Em 1840, trinta e nove anos após a ocupação espanhola (1801), o Português
foi proibido em Olivença, inclusivamente nas Igrejas. Todavia, ele foi
sobrevivendo, numa deliciosa toada alentejana, que logo as autoridades,
vigilantes, classificaram como "chaporreo", palavra de
difícil tradução (talvez "patois"; talvez "deturpação"),
que criou complexos de inferioridade nos utilizadores, levando-os, cada vez
mais, a usar a Língua Tradicional apenas a nível caseiro, dentro do aconchego
do lar. Mesmo com esses condicionalismos, depois de duzentos anos de pressão,
ela é entendido e falado por cerca de, pelo menos 35% da população, segundo cálculos
da União Europeia (Programa Mosaic).
Como sucede, contudo, nestes
casos, em qualquer ponto do Globo, o Português foi perdendo prestígio. Não
sendo utilizado nunca em documentos oficiais, na toponímia (salvo se traduzido
e deturpado), ou em qualquer outra situação que reflectisse a dignidade de um
idioma, manteve-se, discretamente, por vezes envergonhadamente.
A ditadura franquista piorou a
situação. Nas décadas de 1940, 1950, e 1960, era raríssimo, mesmo impossível em
alguns casos, encontrar professores, polícias, funcionários em geral, que
fossem filhos da terra oliventina, na própria Olivença. Colonizadores inconscientes,
peões numa política geral de destruição das diferenças por toda a Espanha. Por
ironia da História, alguns desses cidadãos "importados", com muito menos
complexos que os naturais porque não tinham, quaisquer conflitos de identidade,
ou os seus filhos, puseram-se a estudar os aspectos "curiosos", "específicos",
da cultura oliventina, acabando por produzir trabalhos de valor sobre a cultura
da sua Nova terra, que podem chamar para sempre, e sem contestações, de Terra
Mãe, por adopção, por paixão, ou já por nascimento.
A Democracia abriu algumas novas
perspectivas, mas os fantasmas não desapareceram de todo. Alguns cursos de
Português foram surgindo, com maior ou menor sucesso. Por vezes ao sabor de
questões políticas, como durante a Década de 1990 . Em 1999/2000,
continuando em 2000/2001, a Embaixada de Portugal em Madrid, e o Instituto
Camões, passam a apoiar o apoiar o ensino do português no Ensino Primário em
todas as Escolas de Olivença. Incluindo
as Aldeias. Apenas Táliga, antiga aldeia de Olivença transformada no Século XIX
em município independente, está ainda de fora deste projecto, para o qual foram
destacados, primeiro três, depois quatro professores portugueses. É urgente acudir
a Táliga, onde só 10% da população ainda tem algo a ver com a Língua de Camões.
Foi dado um primeiro e importante passo. Mas não se tem revelado suficiente. O
Estado Português deverá tentar influenciar mais a tomada de outras medidas,
dada até a sua posição sobre o Direito de Soberania sobre Olivença: o ensino da
História (que não é feito em parte nenhuma em Olivença), por exemplo: a
utilização prática da Língua, em documentos oficiais, toponímia, etc.; a
continuação do Estudo do Português até níveis de ensino mais avançados; e
tantas coisas mais que se poderiam referir!
Acima de tudo, é preciso dar ao Português dignidade... e utilidade. Revalorizar
o Português que sobrevive, o qual, por ser uma variante da fala lusa regional
do Alentejo, é vítima de comentários pouco abonatórios.
Deve-se "fazer a ponte"
entre as velhas gerações e os jovens alunos. Ensinando-lhes, por exemplo, a
partir de exemplos da velha poesia popular e erudita oliventina, no idioma de
Camões, e que é ainda, graças a recolhas etnográficas e a alguns poetas
populares vivos, suficientemente conhecida para tal. Porque, sem perceberem que
estão a dar continuidade à cultura dos seus avós, os jovens oliventinos
dificilmente compreenderão que aprender a
língua lusa é muito diferente de aprender uma língua estrangeira (Inglês, Francês,
Alemão). É preciso dizer claramente que o Português é imprescindível para que
as novas gerações compreendam o que as gerações anteriores quiseram transmitir.
Por tudo isto, a situação actual
não é famosa. Há estudos recentes que falam em "declínio do Português em
Olivença", no seu uso coloquial, como um trabalho da Professora Maria de
Fátima Resende Matias, da Universidade de Aveiro. Como dizia um jovem
oliventino (Junho de 2007), a este respeito, «isto é uma verdadeira tragédia;
depois de pouco mais de 200 anos, o português vai desaparecer em Olivença; a
alma dos povos é a língua; a língua é a memória,
é tudo; em Olivença vão ficar somente as pedras, as fachadas, do que foi o seu
passado português; Não há nada mais triste que conhecer que o fim vai chegar e
ninguém fiz[fez] nada para evitá-lo; ninguém compreende que a morte do último
luso-falante vai ser a morte da alma portuguesa, o fim de gerações falando
português nas ruas, nas moradias, no campo oliventino, ao longo de mais de sete
séculos?». E continua: «O artigo da senhora Fátima Matias
explica perfeitamente as razoes e o contexto da agonia do português em Olivença;
mas... agora já não há ditadura; Deveríamos ficar orgulhosos de ter esta
riqueza linguística e procurar defesa e o ensino do português oliventino; (...)
e, um pouco também, o Estado português é também responsável; com independência de
questões de índole soberanista, deveria implicar-se na promoção do português em
Olivença e não somente não reconhecer [a soberania espanhola] e não fazer
nada.»
Pode-se aplaudir o que se faz
hoje, mas é imprescindível algo mais: faça-se um estudo do Português-Alentejano
falado em Olivença, e ligue-se o mesmo ao Português-Padrão ensinado nas
Escolas, de modo a fazer a ligação entre as gerações e produzir uma normal
continuidade que deveria naturalmente ter ocorrido. Assim se corrigirá a
distorção introduzida pela
pressão do Castelhano. Este estudo pode ser feito por quem se mostre capaz de o
fazer: portugueses, mas também alguns especialistas e linguistas estremenhos. A
nenhum Estado (Portugal ou Espanha) se poderá perdoar deixar morrer uma cultura!
O aspecto político da questão, que existe, pode ser secundarizado ao máximo.
Os Primeiro passo poderão ser umas Jornadas,
ou um Congresso, sobre o
tema, que reúna a participação de especialistas e autoridades das mais diferentes
origens, unidos pela sua boa vontade...
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