20 de Março
27-Mar-2010

Alberto MatosAo iniciar a escrita da primeira crónica no “Correio Alentejo”, no último dia deste Inverno chuvoso, dou-me conta que se completam hoje sete anos sobre a invasão do Iraque, esse crime longamente premeditado por Bush & Blair, com pré-aviso oficial na cimeira da mentira nos Açores.

 

Um mês antes da invasão do Iraque, a 20 Fevereiro, teve lugar a maior manifestação global jamais realizada, em quase todas as capitais do planeta, contra o deflagrar da guerra anunciada. Contra a opinião pública mundial, ignorando o Conselho de Segurança da ONU, a “guerra infinita” ensaiada no Afeganistão foi imposta como um facto consumado. A razão foi mais uma vez vencida, mas não convencida, pela força bruta dos arsenais bélicos.

O número de mortos entre a população iraquiana é incalculável, mas ultrapassou seguramente um milhão, calculado por médicos e investigadores, num país que perdeu pelo menos outros tantos em fuga desesperada da violência e da morte. Bush & Blair, embora condenados pela opinião pública, não chegaram a ser julgados por crimes de guerra.

A lógica de dominação financeira e os interesses belicistas a ela associados aprenderam muito pouco no Iraque, como pouco ou nada tinham aprendido no Vietname. Obama, laureado Nobel da Paz, ensaia a retirada do Iraque para insistir no atoleiro do Afeganistão, onde já houve centenas de baixas de soldados da NATO em defesa de um regime de narcotraficantes, aliados com talibãs ditos “moderados”… Sócrates e Cavaco terão de responder pela participação, recentemente reforçada, de tropas portugueses nesta aventura imperial. Não chegava a vergonha da cimeira dos Açores?

Por cá e por essa Europa fora, o mal chamado PEC é o nome mais recente das políticas recessivas e de instabilidade social, que se traduzem no congelamento sem prazo de salários e prestações sociais, sobre o pano de fundo dum desemprego galopante. Sócrates e os seus porta-vozes amofinam-se com as críticas de Manuel Alegre às privatizações que já chegam aos CTT e a este PEC que exige um esforço desigual aos portugueses, mas louvam o apoio de Durão Barroso. É certo que o PEC do governo PS, viabilizado pela direita, tem um padrinho na presidência – Cavaco Silva – mas tem a oposição de um candidato IMPEC: Manuel Alegre, que vem a Beja no dia em que este jornal sair para as bancas.

Não posso terminar sem uma referência aos mineiros da Somincor que voltaram a usar a arma da greve, dez anos depois. Só por si, este facto atesta a firmeza e a responsabilidade de uma luta que reclama, antes de mais, justiça: 100 euros mensais de subsídio de risco para quem trabalha lá no fundo somam, num ano, os 1200 euros que a administração decidiu atribuir por mês a uma recente categoria de “supervisores”. Já sem falar no feriado do dia de Santa Bárbara, 4 de Dezembro, pelo qual a mesma administração ofereceu um mês de salário, nos últimos dois anos – mas em 2009 só pagou metade… Este é apenas um reflexo da desastrosa privatização do sector mineiro.

Alberto Matos – Crónica mensal no “Correio Alentejo”