A Lundin Mining Corporation,
transnacional de origem sueca e canadiana, reduziu actividade na mina de
Aljustrel à manutenção das instalações e suspendeu a produção de zinco na Mina
de Neves-Corvo, a pretexto da queda das cotações deste metal no mercado
internacional. Eis o último acto de uma série de fraudes que se arrastam, desde
finais de 2001, com a privatização da Somincor e das Pirites Alentejanas,
vendidas pela EDM ao grupo Eurozinc em 2004.
A fraude económica foi a venda da Somincor, detentora do mais rico
filão de cobre da Europa, de zinco, estanho e outros metais, por cerca de 125
milhões de euros – um autêntico crime de lesa-património público: só os lucros
do primeiro ano de exploração ultrapassaram o preço de compra. A subida
continuada das cotações do cobre e do zinco ao longo dos últimos sete anos
transformaram a mina de Neves-Corvo numa galinha dos ovos de ouro para a
Eurozinc, chegando ao ponto de “comprar” o feriado de Santa Bárbara – Dia do
Mineiro – pelo equivalente a um mês de salário!
As Pirites Alentejanas de Aljustrel,
com maiores reservas minerais mas com teores metálicos bastante inferiores,
foram compradas no mesmo pacote pela Eurozinc como uma reserva estratégica e
com a vaga promessa de retoma da laboração “quando as condições dos mercados o
permitissem” – o que nunca chegou a acontecer antes de a Eurozinc vender a mina
à Lundin Mining Corporation.
Em Maio de 2008 deu-se o segundo
acto – a fraude política – com a
presença do primeiro-ministro José Sócrates em Aljustrel, garantindo um futuro
radioso e sustentado à mina, aos seus trabalhadores e às populações. Neste
Verão Aljustrel renasceu, sacudindo o torpor de quinze anos de depressão
causados pelo encerramento da mina em 1993, no auge do cavaquismo.
Agora chegou o fim um sonho de
Verão, com o rebentar das bolsas e das bolhas especulativas que engordaram a
mentira da economia de casino global. E não por mera coincidência: as cotações
na bolsa de metais de Londres dependem em mais de 80% de factores
especulativos, como os célebres mercados de futuros que fazem disparar os
preços dos cereais ou o barril de petróleo.
Mais uma vez, os custos sociais da
crise caem sobre os trabalhadores e os consumidores: o governo só acode aos banqueiros e especuladores que a provocaram.
Em Aljustrel, a fraude política promete continuar com promessas de novos
compradores / salvadores de última hora que nada garantem em relação a cem
postos de trabalho nas Pirites e perto de um milhar nas empresas
subcontratadas, entre os quais cerca de três centenas de imigrantes.
É
tempo de responsabilidade política: Sócrates tem de dar a cara e voltar a
Aljustrel.