TEXTO DE MANUEL GRILO - Professor do 1º ciclo, dirigente sindical no SPGL e na
FENPROF
OS NÚMEROS
do desemprego entre os professores e educadores nunca são fáceis de
encontrar. Sabe isto o Ministério da Educação
e sabem-no os sindicatos. Mas há alguns em que todos
concordam.
Vamos a eles:
Este ano lectivo o sistema educativo tem menos 13000 docentes que
o anterior. Este é um dado iniludível.
O Ministério da Educação fez um verdadeiro despedimento colectivo
de 13000 docentes, como escreveu António Avelãs. E continuo a citá-lo
“Naturalmente, se uma empresa privada procedesse a um despedimento colectivo
desta grandeza, o Governo seria incentivado
a intervir em nome das pesadas consequências de tal medida.
Neste caso, porém, o Governo incentiva e aplaude”.
44 725 candidatos à contratação não foram
colocados a 31 de Agosto (dado do próprio Ministério da Educação). A estas
candidaturas não corresponde igual número de professores, já que alguns podem
concorrer a mais do que um grupo de docência. Mas mesmo que sejam só 2/3 (e a
razão é excessiva) o número obtido situa-se perto dos 30 000.
Professores e educadores profissionalizados, na sua esmagadora
maioria, isto é, que têm um curso que os habilita para a docência. Mesmo que
alguns ainda venham a ser contratados nas próximas semanas, em meios horários
(com meios salários), os números não podem deixar de chocar.
Há, portanto, professores a mais, como não se cansa de clamar a
Ministra da Educação e, com ela, o engenheiro Sócrates?
Não há!
Há é 40 000 crianças e jovens com necessidades
educativas especiais que não vão ser apoiadas este ano; houve foi um aumento do
horário de trabalho de todos os professores; houve foi o encerramento de 2500
escolas nos últimos dois anos (e mais 700 anunciadas para este ano); há é turmas
com alunos a mais.
Há é menos condições de trabalho dos professores e menos condições
de aprendizagem dos alunos. E há níveis de insucesso e de abandono escolar que
continuam a colocar-nos no tal sítio a que alguns teimosamente continuam a
chamar cauda da Europa. E há ainda níveis de analfabetismo elevados e uma baixa
qualificação dos trabalhadores em geral (os economistas chamam-lhes
activos).
E com isto poupa-se dinheiro. E só. O Governo do engenheiro só vê
a redução do défice. A Ministra é uma aluna dedicada. Poupa.
E o país fica adiado, a desperdiçar pessoas que no dia 1 de
Setembro formaram filas para o subsídio de desemprego (os que tinham direito,
pois até aí este Governo mexeu, tornando a sua atribuição mais restritiva) ou a
calcorrear os caminhos do novo nome que lhes apuseram: deixaram de ser
precários, passaram a desempregados.
E, no entanto, passou-se para as mãos da iniciativa privada as
actividades de enriquecimento curricular das escolas do 1º ciclo.
Alguns destes desempregados, irão aí cair. É uma equação fácil de
perceber: o estado dá o dinheiro, os privados organizam e dão as actividades,
com os tais professores que vão buscar ao desemprego, agora pagos a tuta e meia,
e, claro, a recibos verdes (passaram à categoria fiscal
de empresários em nome individual). É uma verdadeira renda, nunca se
perde, são empresários portugueses. A ministra poupa e privatiza.
Nas escolas os professores desesperam, com alunos a mais e com
turmas de vários níveis, com menos tempo para prepararem as aulas e um tempo
infindo de burocracias várias que agora entenderem por bem atribuir-lhes.
As famílias não encontram jardins-de-infância públicos e creches
públicas ainda são uma miragem. E as famílias pagam nos privados, que o Governo
não tem dinheiro para mais.
A ministra poupa, privatiza e desvaloriza a escola pública.
Com os mais de 30000 professores e educadores que agora o “rico”
Ministério da Educação desperdiçou era possível ter uma escola pública com
qualidade e que desse às famílias o que elas têm direito.
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