Ainda a água de Alqueva não rega
directamente um único hectare e já a especulação agrária, turística e
imobiliária ameaça a sustentabilidade deste projecto de fins múltiplos.
A falta de coragem política para
avançar com uma reestruturação fundiária, fixando o limite médio de 50 hectares para o
regadio e criando um banco de terras para arrendamento a jovens que promovesse
a agricultura familiar e cooperativa, escancarou as portas à monocultura
intensiva do olival e outras, sucedâneas das “campanhas do trigo” de Salazar.
Os resultados deste latifúndio
de regadio estão á vista na vizinha Andaluzia: exploração de mão-de-obra
imigrante, em condições próximas da escravatura; esgotamento de solos já débeis;
ameaças à biodiversidade, nomeadamente com a introdução dos OGM; seca extrema,
desertificação e desastre ambiental a prazo.
A factura destes atentados será paga
por nós e pelas próximas gerações.
Especulação turística não é a salvação e pode tornar-se um inferno
O PROZEA, aprovado quando
Sócrates era ministro de estado do Ambiente, fixava um limite de 480 camas
turísticas na envolvente da albufeira de Alqueva – o que levantou um coro de
críticas de promotores turísticos e de Câmaras do PSD, do PS e da CDU.
Sócrates primeiro-ministro multiplicou este limite por 45:
22 500 camas, distribuídas por 11 unidades “turísticas”
com dimensão até 2500 cada uma, nos concelhos de Portel, Reguengos de Monsaraz,
Mourão, Moura, Serpa e Vidigueira.
Os novos agentes de projectos imobiliários,
disfarçados de turísticos e a coberto dos PIN (Projectos de Interesse Nacional),
são incentivados pelo governo e apadrinhados pelos responsáveis autárquicos, na
envolvente de Alqueva e noutros concelhos do Alentejo.
O Alentejo deve apostar num
turismo de qualidade, assente na especificidade cultural, no património e na
gastronomia, evitando repetir os piores exemplos de destruição do litoral.
Em causa a quantidade e a qualidade da água
para rega e
abastecimento público
A qualidade da água do regolfo
de Alqueva é, já hoje, fonte de preocupações.
Além dos pesticidas e
fertilizantes químicos acumulados ao longo da bacia do Guadiana, cidades de
grande dimensão como Badajoz (com 150 mil habitantes) despejam nela os seus esgotos,
sem qualquer tratamento.
As novas ameaças do regadio intensivo, a eventual introdução de
culturas transgénicas e a especulação turístico-imobiliária, fazem redobrar
estas preocupações.
Em causa estão a quantidade e a qualidade da água, não apenas para
fins agrícolas mas também para o abastecimento público, numa região onde a seca
e a desertificação são já uma realidade.
Só a
mobilização ambiental e cidadã pode inverter o rumo destas políticas, garantindo
o desenvolvimento integrado e sustentável do Alentejo e do país.
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